quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A atitude de um Karateca

Quando um praticante de Karatedō entra no Dōjō, deve ter consciência de que ali não vai apenas exercitar-se fisicamente, pois além do corpo, no treinamento é preciso incluir a mente (técnica) e o espírito (caráter).
Na prática das artes marciais, estes três fatores: corpo, técnica e espírito são inseparáveis e devem ser treinados de uma forma integral; para isso, é necessária total atenção e concentração em nossos atos, ainda mais quando é deles que pode depender nossa integridade física.
Isto é o que os mestres japoneses chamam de Shin, Gi, Tai. Este conceito faz referência às três qualidades que devem manifestar os que ostentam Dan e Kyū.
Shin ou o espírito, o caráter; Gi ou a técnica da arte praticada; Tai ou os elementos corporais. Outra interpretação para tal concepção seria: Shin como o céu, Gi como a terra e Tai como o homem. O objetivo das artes marciais, quando o treinamento é bem direcionado, é reunir estes três elementos.
Para ilustrar melhor essa união vejamos um pequeno exemplo: quando realizamos a defesa Gedan-barai (expulsar em nível baixo) é evidente que se trata de um ato físico, porém o que realmente importante não é a ação muscular, mas sim a atitude e a intenção com a qual executamos tal técnica, já que ela somente será efetiva se realmente envolvermos todo nosso ser durante sua execução.
Como isto pode ser possível? Como se consegue desenvolver técnicas verdadeiramente eficazes?
Se durante o treinamento nos distraímos e conversamos com os companheiros; se esperamos com ansiedade as pausas ou descansos e, além disso, desperdiçamos tais pausas para conversar; se nos preocupamos com quanto tempo falta para acabar a aula; se tememos que um companheiro nos machuque; se pensamos (demonstrando ou não): “Ah! Outra vez este Kata!”...; se não acreditamos na metodologia empregada pelo professor e, em definitivo, se ocupamos nossa mente em coisas e ações alheias ao treinamento, estamos alterando o sentido original da prática marcial.
Portanto, os praticantes devem adotar certas normas ou atitudes para melhorar seu desempenho dentro da prática marcial, vejamos algumas:
·         Evitar as distrações ou interrupções sem motivo justificado;
·         Realizar rapidamente e sem comentários supérfluos as trocas de companheiro, com o objetivo de não romper a harmonia e o fluxo da aula;
·         Retirar-se a um canto do Dōjō ou Tatami se sentir-se mal, para reintegrar-se ao treinamento quando estiver melhor;
·         Esperar as pausas (Yame) e os descansos (Yasume) para perguntar suas dúvidas ao Sensei;
·         Solicitar a autorização do Sensei para entrar e sair da aula.
·         O aluno sincero deve praticar em todo o momento com os cinco sentidos postos em cada gesto, cada ação e em cada uma das técnicas que realize, como se fosse esta a última vez que está praticando a arte e quisesse saborear a fundo cada momento, cada instante, cada movimento. 
·         Da mesma forma, nos exercícios em duplas ou com mais companheiros deve dar o melhor de si, mostrando empenho na execução e decisão em suas defesas e ataques, sempre buscando a harmonia e o progresso mútuo.
Para isto, um verdadeiro Karateka, deve evitar as seguintes condutas:
·         Praticar sem motivação e sem tentar superar-se dia a dia;
·         Conversar, distrair-se ou não estar atento durante a prática;
·         Correr o risco de lesionar-se ou machucar seus companheiros para satisfazer seu “ego”, por raiva, ira, temor, etc...;
·         Sentir-se superior ou mais qualificado que seus companheiros;
·         Fazer-se notar, vangloriar-se ou gabar-se das proezas realizadas;
·         Tratar de impor critérios pessoais, sabendo que não são ensinados pelo Sensei;
·         Questionar ou discutir os ensinamentos do Sensei ou queixar-se disto publicamente;
·         Subestimar os demais Professores para enaltecê-lo;
·         Criar inimizades entre seus companheiros ou entre as pessoas em geral;
·         Falar mal ou criticar as outras artes marciais ou seus praticantes;
·         Por em pauta de avaliação os conhecimentos do Sensei, do Senpai e dos demais companheiros;
·         Opinar ou criticar sobre a graduação ou faixas outorgadas pelo Sensei aos demais alunos;
·         Abusar da confiança do Sensei e dos demais companheiros;
·         Ser violento, egoísta, orgulhoso, vaidoso e mal intencionado.
Em definitivo, seria muito bom que os praticantes, se entregassem ao máximo durante as aulas, como se sua vida dependesse disto, porém sempre mantendo o controle físico e emocional que dá o sentido de humildade. Além disso, em todo o momento devem tentar superar suas debilidades, defeitos ou tensões que cotidianamente acercam o ser humano, esperando ver uma abertura em seu Kamae (guarda)... metaforicamente falando.
Outro aspecto a considerar, e o mais importante de todos segundo o mestre Gichin Funakoshi, é que o Karatedō pode e deve ser praticado durante todo o dia, e isto somente é possível se somos conscientes de nossos atos em todos os momentos, como por exemplo: controlando nossa respiração, mantendo a postura correta, tendo uma boa atitude em relação aos demais, conservando a humildade nas intenções e, em síntese, abordando os problemas diários com o espírito do Karatedō.
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Referências:
RINCÓN, Martín Fernández. Karate-dō: reflexiones para la práctica. Albacete, Fevereiro de 1999.
RINCÓN, Martín Fernández. La actitud del estudiante de Karate-dō. Albacete, Fevereiro de 1999.

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